domingo, 12 de maio de 2013

Com a Palavra por Rodrigo Wolff Apolloni Edição Especial




“The Warriors”: a mãe de todos os “side scroller games” 
por Rodrigo Wolff Apolloni    

     Quando falamos em cinema em um ambiente “crítico” ou “intelectual”, normalmente pensamos em obras que alcancem as porções mais nobres do espírito. Nesse contexto, até mesmo as produções “desprezíveis”, os filmes de apelo francamente comercial, podem encontrar espaço por seu valor alegórico. Pois é. 


     Fui convidado a escrever para este blog sobre o tema cinematográfico que quisesse. Poderia ter focalizado, por exemplo, “Nosferatu” ou“Apocalypse Now”, peças que colocaram minha mente em transe e que se enquadram vigorosamente no cânone intelectual. Longe disso, porém, meu pensamento correu para “The Warriors” (em português, “Os Selvagens da Noite”), filme de 1979 roteirizado por Sol Yurick e dirigido por Walter Hill, o mesmo que revelou Eddie Murphy em “48 Horas” e que foi o produtor de “Alien – O Oitavo Passageiro”.




     Pois “The Warriors” é uma produção adolescente e furiosa, suja e violenta, com gigantesco potencial de sedução. Partindo da turbulenta Nova Iorque dos anos setenta, a fita retoma o ancestral tema da jornada, reeditando Ulisses em grande estilo. Conta, em síntese, a saga de retorno dos integrantes de uma pequena gangue da distante Coney Island (os “Warriors”) para casa, depois de uma malfadada jornada ao Bronx para participar de uma convenção de bandidos.


     Acusados injustamente de assassinar o “papa” da bandidagem, que havia convocado todos os grupos de Nova Iorque para o encontro em que seria decidida a tomada da cidade, são caçados ao longo do retorno. Enfrentam gangues sedentas de sangue e da honra de exterminar os “regicidas”, apanham e batem em malucos de todos os gêneros. E acabam chegando em casa lanhados e, aleluia, redimidos e reconhecidos em sua coragem. Já não são um “bando chulé da periferia”, mas um clã samurai que superou os piores desafios. Sublime e catalisador. Fim.




     Quando lançado, “The Warriors” foi visto com desconfiança pela polícia e pela burguesia, e com tremenda alegria pelos jovens pobres das grandes cidades americanas. Que brigavam nas filas e que chegaram a depredar algumas salas. Nas primeiras semanas em cartaz, aliás, três jovens foram assassinados a caminho do cinema. Eram as gangues de verdade reagindo à arte.


     Mesmo sem ter sido levado a sério pela crítica, que o classificou como superficial e infantil, “The Warriors” entrou para a história: ficou na 16ª posição na lista dos “50 maiores Cult” da “Entertainment Weekly” e na 14ª da lista dos 25 filmes mais controversos de todos os tempos, da mesma publicação.




     O primeiro “filme-jogo” – Tenho para mim, ainda, que o tal filme antecipou em pelo menos cinco anos os chamados side scroller games, aqueles jogos de arcade em que o objetivo é fazer com que o jogador transporte seu avatar por um longo caminho vencendo “chefões” e dando tiros e porradas a valer. Clássicos como “Double Dragon”,“Trojan”“Kung-Fu Master” e mesmo “Super Mario Bros.”, que fazem sucesso até hoje.


     Ao fim e ao cabo, resta a constatação intelectual e alegórica de que“The Warriors” beliscou uma corda psíquica essencial, a que se refere aos desafios e aos riscos da jornada descritos em todas as mitologias. Fora isso, o negócio é encher o balaio de pipocas, deitar no chão da sala e pedir que os outros não encham o seu saco! Até a próxima edição!!!


Ao ver o filme, fique de olho:

. No visual e no design dos anos setenta, que está em alta.
. Na referência à pichação, algo que estava fervendo em Nova Iorque por conta das chamadas “grafitti wars” desfechadas pela municipalidade de 1972.
. Na trilha sonora enamorada do funk e no tema incrível de Barry de Vorzon (até o nome do cara é incrível).
. Na amarração da jornada, que passa pelo metrô e, principalmente, pela voz fatal de uma disc-jóquei negra que vai informando as gangues sobre o paradeiro dos caçados.
. Na dublagem brasileira, competentíssima.
. No bordão “Can you dig it?” que virou um clássico dos apaixonados pela fita.

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